Tales de Mileto viveu
no período entre o final do século VII e meados do século VI a.C. e parece ter
sido um político atuante que pretendeu unir as cidades-Estados da Ásia Menor no
intuito de formar uma confederação contra as ameaças de invasões persas.
Fonte: Google
A
afirmação é filosófica de Tales, por ser absolutamente sintética, por conceber
algo o mais universal, por apreender pelo pensamento que apenas um é.
E, se do um emerge todo o resto, então este
universal está em relação aos particulares, esta unidade permanece mesmo
determinando causalmente toda multiplicidade existente no mundo, esta que nos
aparece aos sentidos. Não há, portanto, imagens ou fabulações mitológicas, mas
apenas a síntese que concebe universalmente a realidade, que a explica
racionalmente.
Tal postulado filosófico, tal generalização
grandiosa, que de tantos é possível conceber um único elemento, a água, de onde
toda existência singular parte e para onde retorna. Eis a origem da filosofia.
Porém, há uma falha lógica, já notada por Aristóteles, o princípio universal
para todas as coisas singulares também é, ele mesmo, o elemento água, singular,
material.
Segundo Aristóteles, a maior parte dos primeiros
filósofos considerava como os únicos princípios de todas as coisas os que são
de natureza da matéria. Aquilo de que todos os seres são constituídos, e de que
primeiro são gerados e em que por fim se dissolvem, enquanto a substância
subsiste mudando-se apenas as afecções, tal é, para eles, o elemento, tal é o
princípio dos seres; e por isso julgam que nada se gera nem se destrói, como se
tal natureza subsistisse sempre… Pois deve haver uma natureza qualquer, ou mais
do que uma, donde as outras coisas se engendram, mas continuando ela mesma.
Quanto ao número e à natureza destes princípios, nem
todos dizem o mesmo. Tales, o fundador da filosofia, diz ser água [o princípio]
(é por este motivo também que ele declarou que a terra está sobre água),
levando sem dúvida a esta concepção por ver que o alimento de todas as coisas é
o úmido, e que o próprio quente dele procede e dele vive (ora aquilo de que as
coisas vem e, para todos, o seu princípio). Por tal observação adotou esta
concepção, e pelo fato de as sementes de todas as coisas terem a natureza
úmida; e a água é o princípio da natureza para as coisas úmidas (…). ARISTÓTELES.
Metafísica, I, 3.983 b 6.
Conforme o que diz Aristóteles, temos que Tales, a
partir de sua observação dos fenômenos empíricos, vincula a água às coisas que
possuem vida, o que o permite inferir tal generalização de que a água é o
princípio de todas as coisas. Além disso, a água é o princípio do devir, isto
é, da mudança que sofrem todas coisas físicas, na medida ela própria se
transforma em todas as coisas, enfim, tudo é uma modificação da água, todas as
coisas não são senão variadas formas da própria água. É claro que isto parece
ser cientificamente assombroso, improvável, mas não se trata de ciência, e sim
de filosofia, portanto, do que é assombroso, difícil, oculto aos olhos do
corpo, mas universal, generalizador, real, desvelado aos olhos do espírito.
E, mesmo que, segundo
Aristóteles, já tenham dado explicações mitológicas parecida com a de Tales,
isto é, de que o Oceano é o princípio de todos os outros deuses e de todas as
coisas do mundo, mesmo assim, Tales não procura explicar racionalmente a origem
de tudo e para onde tudo retorna, esta mesma, que subsiste na medida em que ela
é todas as coisas, isto é, todas as coisas são modificações da própria água, do
que é eterno, do que subsiste sempre, daquilo que não tem origem, mas que
origina tudo o mais.
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